Educação Existencial.


Fotos da Escola em Padre Paraíso-MG,  Idealizada pelo Professor Manoel, que leva o seu nome.















EDUCAÇÃO EXISTENCIAL: CRESCENDO E APRENDENDO COM  O SOFRIMENTO

                   
                   “Pelo fogo se prova o ouro, pela adversidade, os fortes”

                                                                Sêneca

      Em todas as discussões pedagógicas do momento sempre vem à tona a mesma discussão: “temos que preparar as nossas crianças para o exercício pleno de sua cidadania, tornando-as cientes dos seus direitos e deveres”. Quanto a isso ninguém tem dúvida, até porque estes preceitos fazem parte de nossa Constituição Federal e da LDB. O que pretendemos colocar em discussão é um tema de relevante importância para todos nós que envolve toda a nossa vida e a vida de nossas crianças, pois sem saber lidar com estes elementos existenciais fica comprometido toda nossa cidadania que no fundo é um processo de abertura do “eu” diante do mundo que nos cerca. Para isso, é de suma importância aprender a lidar com “as nossas situações limites e de prova” que muitas vezes não entram em discussão em nossos espaços educativos. Será que a dor, a perda, a desilusão, a frustração, a consciência de limite não são temas de relevante importância para o processo educativo? Buscar o reconhecimento que não somos perfeitos  e que o processo educativo só se efetiva quando temos adquirido essa consciência de limite não deve assumir um espaço em nossas agendas  educativas? Como formar um homem equilibrado e socialmente integrado se ele não é capaz de aprender a conviver com as dores e o sofrimento? São estas interrogações existenciais que a filosofia da educação existencial tenta desvendar e superar. Se educar é um ato fundamentalmente humano, não podemos fechar os olhos para todos os temas que envolvem o ser humano, dentre eles: o nosso limite existencial. Diante disso podemos aprender com o Marx quando nos diz: “ nada que é humano me é estranho”.
         Verificamos na relação que estabelecemos com nossas crianças, adolescentes, jovens e colegas professores que atuam no interior de nossas escolas relatos de experiências e intensos dramas existenciais,  que interferem profundamente no seu modo de ser e desempenho educacional. Temos crianças e professores passando por situações existenciais limites com alto grau de dramaticidade:  mortes de pais, vítimas de inúmeras formas de violências e exclusões, desestruturação ou até ausência famíliar etc. Diante deste quadro, precisamos urgentemente de uma pedagogia que seja capaz de pensar a criança e o educador para além de seu intelecto e que possa nos ajudar de como tirar algo de positivo em situações limites como estas.
   Podemos nos inspirar naquilo que o grande pensador Vitor Frankl nos diz quando se refere a estes problemas existenciais:
   “Alem do desejo de prazer e da vontade de poder existe no homem uma força motivadora ainda mais intensa, a vontade de sentido: a alma humana pode suportar tudo, exceto a falta de um significado para a  vida. Dizia ainda Frankl: “se você tem um porquê na vida, então pode suportar todos os comos.”
   No entanto, não seria a função da educação extrair de dentro de nossas crianças e jovens este sentido para vida? Não seria a educação a arte de extrair do humano ohumano como fizera a grande mestre Sócrates que chamou este maravilhoso feito de maiêutica?
    Todos nós passamos por momentos de limites na vida como estas acima citadas; isto é, épocas em que somos duramente postos à prova pelas circunstâncias. Esses momentos podem surgir de acidentes, ferimentos, doenças, a perda de um ente querido, um casamento ou namoro rompido, uma mudança súbita etc. Embora a compreensão permita preciosos consolos no próprio momento, esses períodos de mal estar tão difíceis de suportar que podem se estender por semanas, meses e até anos são também a melhor oportunidade para darmos saltos qualitativos no crescimento pessoal. Daí a importância pedagógica desses momentos de crises.
   Esses momentos são mais significativos pela verdade que revelam do que pelo sofrimento que provocam. Lançam fora seu bem-estar normal de viver, mostrando até que ponto você está equipado para lhe dar com eles. O equipamento é nada mais nada menos que nossa filosofia de vida.
  Quando as coisas vão bem, é raro alguém questionar as circunstâncias da vida ou buscar orientação. Todos se sentem super-homens e não externam nenhum sentimento de gratidão por este momento  que poderiam aproveitar para fazer o bem para outros que tanto necessitam. Quando as coisas vão mal, de repente, ficam cheios de perguntas sobre as circunstâncias da vida: quem me fez isso? Por que isso  está acontecendo comigo? Qual o seu significado? Qual o propósito? O que devo fazer? O que não devo fazer? E assim por diante. Ao invés de buscarmos as respostas dentro de nós mesmos enveredamos em direção ao consumo de psicofarmacos como se estes pudessem responder aquilo que somente nós somos capazes.
   Nos tempos bons, todos querem levar o crédito; nos maus,  todos querem jogar a culpa em alguém. Ninguém questiona os bons tempos, nos maus, de repente, todo mundo vira filósofo. É só quando enfrentamos circunstâncias difíceis que nossas forças
e fraquezas interiores e as idéias que mais valorizamos são postas  à  prova. Assim, passar algum tempo em dificuldade é a mais verdadeira prova do caráter. É neste momento que aprendemos a ser através das dificuldades. É uma porta que se abre com a dor e o sofrimento. Este momento é  fertilíssimo para o processo educativo. Para abrir esta porta, a primeira coisa de que precisamos é reconhecer um momento determinante de verdade. Qual ou quais acontecimentos calamitosos foram divisores de águas em nossa vida? As crises muitas vezes nos revelam situações de verdade que quando vivemos na pseudo “harmonia” não conseguimos captar. Uma pedagogia existencial poderá nos ajudar a compreender esta tarefa, mostrando-nos que a maturidade não é a fuga ou mascaremento dos problemas, mas é a capacidade que despertamos nas crianças e nas pessoas de como enfrenta-los e superá-los. O primeiro passo é levar as pessoas a pensarem o obvio:
1º - fazê-los sentir que estão vivos;
2º - Descobrindo que possuem vida, levá-lo a pensar que esta tem um sentido;
3º- Este sentido está dentro de nós e nas pessoas mais próximas que amamos: pais, filhos, esposo (a), irmãos.
4º - Daí descobrirá que além de nossa família existe uma comunidade que espera por nós;
5º - descobrindo a nossa utilidade como pessoa,  compreendemos que somos cidadãos do mundo e feitos para brilhar. Existem muitas pessoas que precisam do nosso calor e de nossa luz.
6º -  Diante disso perceberemos que temos limites existenciais. Dentre todo este limite o que mais nos atormenta é a morte.
7º Para quem tem fé superamos até mesmo  este maior limite, pois nascemos para o infinito: onde teremos vida plena, felicidade plena e contemplaremos o amor pleno.
                                                                                         Padre Paraíso,16 de outubro de 2010.

  
                                                                                                   Professor:  Manoel Viana.

Fotos e postagem: Valseque Bomfim.



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