HISTÓRIA DO CARNAVAL EM PADRE PARAÍSO




    Tudo se inicia em 1950. O rádio era o nosso principal veículo de comunicação. A imaginação de nosso povo viajava justamente ao som do rádio onde se escutava o noticiário político, esportivo, novelas, programas de auditórios realizados ao vivo, etc..   É neste período, ao som do REPORTERESSO, da Rádio Nacional que o nosso povo acompanhou a perca da copa do mundo pela seleção Brasileira em 1950 para o Uruguai, em pleno Maracanã, a volta de Vargas ao poder e a tragédia pessoal deste presidente que finaliza a carreira política com o suicídio em Agosto de 1954. Quatro anos após, a Seleção Brasileira conquista o campeonato mundial ela primeira vez, em 1958 na Suécia. Pelé aos dezessete anos torna-se conhecido mundialmente.

     As marchinhas de carnaval entram suavemente no inconsciente das pessoas, dando lhes um contorno poético e artístico, permitindo que saísse da alma de todos, como um vulcão em erupção, esse prazeroso rimo de carnaval que semelhante as ondulações de nossas montanhas retratava a época a vida social, cultural e romântica de Água Vermelha, Hoje, Padre Paraíso.

     Em 1950, os carnavalescos coordenados pelo mestre Capiano, Duda de Belarmino, Antônio Pereira Duarte (Antônio de Dudu), Moreno, Agenor Sapateiro, Galdenso, Cândido Curuteiro, o grande sanfonista Suva, Antônio Pé de Chola, faziam de Água Vermelha (Padre Paraíso) um espaço de alegria e entusiasmo, referendado por aqui a mesma euforia encontrada no espirito Brasileiro na década de 50.

     Em 1954, continuou-se com a iniciativa, o mestre Capiano incluindo novos personagens nesse processo: Olimpio Dentista, Antônio Xó, Anézio Sapateiro, José Mascate que chegou a Agua Vermelha ( Padre Paraiso) nesta época.
Em 1956 chegou a nossa cidade o carnavalesco Manchinha, com sua mulinha, que encanava a todos com seu estilo irreverente e entusiasta. A mulinha virou sucesso e não se pode falar hoje da historia do carnaval de Padre Paraíso se não falar da mulinha do Manchinha. Neste ambiente de alegria e de busca de entretenimento, o senhor José Mascate, fundou em nosso meio um espaço dançante denominado de Palmeiras que se localizava onde é hoje a Rua Santa Luzia denominada na época de pampeiro que foi o espaço a onde funcionou a primeira zona boêmia da nossa antiga Agua Vermelha. Os ilustres frequentadores deste ambiente, a época, eram: Tó Botelho, Plastim (o ex goleiro do antigo time de futebol, o rodoviário, chamados por todos de Bode), Zé Pretinho, memorável craque de futebol, que comovia o público futebolista da época com sua extraordinária habilidade, Joao Felpudo( fantástico ponta direita que jogou por muitos anos num outro respeitando time de futebol, o Paraíso esporte Clube.

    Dois times de futebol se destacaram na década de 60 em nosso meio: o rodoviário que era chamado por todos também de bode verde. O time era uma homenagem ás inúmeras pessoas que trabalhavam na companhia que construía a rodoviária BR116 e de pessoas que moravam ou que eram ligadas ao DNER, como Zé Calango e outros. Daí o nome rodoviário. O técnico desde time a época, era o Sr Geraldo Zagalo e posteriormente o Sr. Liô do DNER. O apelido bode verde é uma alusão a uma pinga existente a época, muito consumida e degustada pelos jogadores após as partidas de futebol, chamada ironicamente também de incha pé.
O outro time denominado de Paraiso Esporte Clube, foi uma alusão e homenagem ao recente município criado que, de Água Vermelha, quando distrito, passa a se chamar Padre Paraíso. Daí o nome Paraíso para designar o time de futebol. Os responsáveis por este time foram: Zequinha Lopes, Moreno etc..

     Assim, percebe-se, que a junção cultural entre o carnaval e o futebol que entrou na formal sutil no imaginário da cultura popular brasileira já se fazia presente, também, na alma do povo de nossa amável Água Vermelha que hoje chamamos de Padre Paraíso. Além dos desportistas, não podemos esquecermos de Manoel Vieira, grande incentivador e motivador do carnaval da época, Luciano Bombeiro que chegou a receber homenagem das marchinhas produzidas por artistas locais, Zequinha Lopes, o “Galâ”, que mexia com o coração das meninas.

     Com o inicio da abertura da BR116, nos anos 60, os moimentos de lazer mudaram de local. A antiga zona Boemia que se localizava na rua Santa Luzia, denominada de pampeiro, passa a funcionar no Bairro Joao de Lino, Rua Santo Antônio com o nome de Brejo. O Brejo virou referencia de lazer para muitos: os peões da companhia, garimpeiros, transeuntes em geral, etc..

     A tradição carnavalesca, que se iniciou no antigo pampeiro nos anos 50, na antiga Água Vermelha e posteriormente Padre Paraíso em continuidade nos anos 70 e 80 com a mulinha do manchinha que ia ao Brejo buscar as mulheres para desfilarem pelas ruas de Padre Paraíso encantando e comovendo a muitos.
Faz Parte desde contexto, foliões como: o saudoso Banana, Antônio Moranga, Antônio Alves, Zi Preto, Osvaldo do Carmo, João de Olinto Dentista, Nenga Mecânico, Bertinho do DNER, Antônio Macedo e etc..

     É importante ressaltar que este bloco carnavalesco, mesmo de forma inocente, tornou-se um símbolo de resistência contra o preconceito e a exclusão social existente em nosso meio, onde alguns setores conservadores de nossa comunidade, movidos por um falso moralismo, não via nesta iniciativa um valor cultural que representasse parte de nossa história. O preconceito venceu a parte de nossa memoria histórica se perdeu. Assim o bloco da mulinha do manchinha deixa de existir e Padre Paraiso fica menos alegre.

     Nos anos 80 e 90, os filhos dos antigos carnavalescos, Olinto Dentista e Agenor Sapateiro, e outros, criam em Padre Paraiso uma escola de samba de nome os Diplomatas do Samba que alegrava de forma bem humilde e entusiasma os Padre Paraisenses em época de carnaval.

     Faziam parte deste grupo: Antônio Alves, Milton Alves, o saudoso Cica de Maria de Nelson, Wilson da COPASA, Gilson de Tonico Dias, Kau de Tonico Dias, o saudoso Toninho de Neri, Luizinho de Ana Rita, Gilson Carioca, Mazinho de Olinto Dentista, Nega de Olinto Dentista, Joao e Nadinho de Olinto Dentista , Cói de Raul Modesto.

     Nos finais dos anos 90 e inicio de milênio a cultura de massa chega ao nosso meio de forma avassaladora como um verdadeiro terremoto, destruído tudo que tem pela frente : nossos valores, nossa memoria, e sobretudo, nossa nossa identidade. O nosso samba local e as nossas marchinhas, são substituídas pelo axé da Bahia que vira uma verdadeira epidemia cultural. As pessoas que possuem um pouco mais de recurso procuram as praias em épocas de carnaval e aqueles que não possuem esta condição, são obrigados a ver o carnaval do Rio de Janeiro e da Bahia pela televisão ou vão até Catuji experimentarem o famigerado axé music. Foi contra este quadro dramático de exclusão, que recentemente, em 2003, saiu em Padre Paraíso um bloco carnavalesco com o seguinte tema: “os ricos vão e os pobres ficam!” Os principais representantes desde bloco foram: Prof. Armando, Zilene, Luizinho, Tiago, e Andrea.

     Tendo como referência a nossa história carnavalesca, procuramos apresentar de foma bastante simples, este pequeno texto que retrata um pouco daquilo que foi o nosso passado para compreendermos o que somos hoje e o que poderemos ser no futuro. Dependendo sempre daquilo que desejamos construir para o futuro.
Colaboração: Manoel Viana.
                                                                                                       



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